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Imagens geradas por IA impressionam, mas impacto ambiental levanta alerta sobre consumo de água e energia

Data Center da Google na cidade de Henderson, em Nevada nos EUA | Foto: Reprodução | Google

O encantamento gerado pelas imagens no estilo Studio Ghibli criadas por Inteligência Artificial (IA) tem conquistado a internet. No entanto, poucos conhecem os impactos ambientais ocultos por trás dessas criações virtuais. A geração de imagens, animações, textos e outros conteúdos por IA generativa, como o ChatGPT, depende de um esforço computacional massivo, que consome não apenas energia elétrica em grandes proporções, mas também recursos hídricos de forma alarmante.

Segundo a professora Bárbara Coelho, da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e coordenadora do Comitê de Inteligência Artificial na Educação da International Association of Artificial Intelligence, a geração de apenas 20 respostas de texto pelo ChatGPT pode consumir cerca de 500ml de água — e esse consumo é ainda maior quando se trata da produção de imagens, que exigem, em média, 20 vezes mais processamento por comando.

Esse gasto acontece, principalmente, nos data centers, instalações físicas que armazenam e processam dados e que precisam de sistemas intensivos de resfriamento para operar com eficiência. “A IA generativa consome muita energia, e isso gera calor extremo nos mega processadores como GPUs, que precisam ser resfriados constantemente. A água é usada tanto no resfriamento quanto no processo de tratamento para uso industrial”, explica a especialista.

O impacto não se limita ao consumo direto. De acordo com Bárbara, o ChatGPT chega a demandar até dez vezes mais água para resfriamento do que os sistemas convencionais do Google. A gigante da tecnologia, inclusive, enfrentou forte resistência ao tentar ampliar seus data centers em The Dalles, no Oregon (EUA), após a população descobrir que só uma unidade consumia mais de 355 milhões de galões de água por ano — mais de um terço do consumo de toda a cidade.

Além disso, há uma consequência ambiental pouco discutida: o vapor d’água liberado na atmosfera pelos data centers não retorna necessariamente às fontes de onde foi retirado, o que pode alterar ciclos naturais da água e causar assoreamentos e desequilíbrios ecológicos nas regiões afetadas.

O problema se intensifica quando se considera que 80% da energia gasta no resfriamento dos sistemas está relacionada ao tratamento da água, enquanto apenas 40% é utilizada diretamente pelos computadores. Os 20% restantes são consumidos por outros componentes auxiliares das operações.

Apesar das preocupações ambientais, a professora destaca que a IA generativa também pode ser uma aliada na proteção do planeta. Entre os usos positivos, estão o monitoramento ambiental, a detecção de desmatamentos, a análise de biodiversidade e o apoio em modelagens climáticas e prevenção de desastres.

“É necessário equilíbrio. A IA tem grande potencial para o bem ambiental, mas atualmente ela opera à custa de um alto consumo de recursos naturais, como água, energia, minerais e ainda gera resíduos eletrônicos. O desafio é garantir que seus benefícios não sejam superados pelos danos que causa ao meio ambiente”, conclui Bárbara Coelho.

O tema, inclusive, será pauta das discussões internacionais na COP-30, que acontecerá em Belém do Pará ainda este ano, reunindo especialistas e líderes globais para debater o papel da IA frente à emergência climática. Fonte: A Tarde

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