Salvador 475 anos: A ligação ancestral entre a Barroquinha e o Engenho Velho da Federação
A relação histórica entre a Barroquinha e o Engenho Velho da Federação, em Salvador, revela uma conexão profunda e pouco conhecida entre esses dois bairros, intrinsecamente ligada à história das religiões de matriz africana na capital baiana.
A Igreja da Barroquinha, do século XVIII, foi palco das atividades de duas irmandades negras que mantinham cultos de religiões afro-diaspóricas em seu entorno, dando origem ao candomblé da Barroquinha. Posteriormente, devido à perseguição religiosa, os praticantes desses cultos migraram para a região do Engenho Velho da Federação, onde se estabeleceram e formaram uma comunidade marcada pela presença de diversos terreiros de candomblé.
A Barroquinha, situada em uma depressão entre colinas, gradualmente se tornou um bairro de maioria negra a partir do século XVIII. Nessa área, a irmandade Senhor Bom Jesus dos Martírios desempenhou um papel fundamental no surgimento do candomblé local. Mesmo em proximidade às instituições coloniais, a Barroquinha se destacou como reduto jeje-nagô-iorubá, atraindo grupos de resistência contra o governo colonial e promovendo a integração social através da religião.
No entanto, a partir de 1807, a região passou a ser alvo de uma violenta repressão policial, levando muitos praticantes de religiões afro-diaspóricas a se refugiarem em áreas mais distantes, como o Engenho Velho da Federação. É nesse bairro que se encontra o Terreiro da Casa Branca, considerado um dos mais antigos do país e um símbolo da resistência cultural africana.
A exposição “Diálogos do Patrimônio”, realizada na Casa das Histórias de Salvador, destaca essa relação entre a Barroquinha e o Engenho Velho da Federação, entre outras conexões históricas e culturais na cidade. A mostra amplia o conceito de patrimônio, explorando não apenas os locais tombados, mas também os territórios e as relações entre eles, proporcionando uma compreensão mais ampla da dinâmica urbana e cultural de Salvador.
