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Guerra entre facções causa onda de assassinatos e pânico na região de Irecê

Fotos: redes sociais

A disputa entre facções criminosas atingiu um novo nível de violência no Sertão da Bahia, especialmente na região de Irecê. Nos últimos dias, uma sequência de assassinatos e ataques coordenados acendeu o sinal de alerta entre moradores e autoridades de segurança. Somente no sábado (25), foram registrados dois homicídios e uma tentativa de execução em três cidades diferentes — São Gabriel, Barro Alto e Irecê — todas com o mesmo padrão de atuação: homens vestidos de preto, encapuzados e agindo de forma precisa, fugindo sem deixar rastros.

De acordo com informações apuradas pelo Informe Baiano, a guerra é motivada pela disputa territorial entre o Bonde do Maluco (BDM) — facção que domina a principal rota terrestre do Sertão — e o Comando Vermelho (CV), que tenta avançar sobre áreas estratégicas e assumir o controle das rotas do crime organizado na região.

Em São Gabriel, criminosos invadiram uma residência na zona rural e executaram Vinícius Freire de Souza, de 25 anos, na frente da esposa. Poucas horas depois, em Barro Alto, Uemerson de Souza Rocha, 24, foi morto dentro de casa, também na presença da companheira, em uma ação semelhante. Já em Irecê, um homem foi baleado dentro de um bar e conseguiu sobreviver.

O berço do BDM e a rota da guerra

A região de Irecê tem importância simbólica e estratégica. Foi no município de Cafarnaum que nasceu o BDM, criado por Zé de Lessa, morto em confronto com a polícia anos depois. De lá também surgiram figuras conhecidas do crime, como “Paulo Escopeta” e “Xerife”, responsáveis por impulsionar o auge do chamado Novo Cangaço, marcado por ataques a bancos e carros-fortes no interior da Bahia.

Atualmente, o mapa do crime se divide em duas frentes: o BDM controla a Estrada do Feijão (BA-052), importante corredor logístico terrestre, enquanto o CV domina o Rio São Francisco, utilizando rotas fluviais em cidades como Xique-Xique e Barra para o transporte de drogas, armas e dinheiro. O conflito começou quando o Comando Vermelho tentou expandir sua influência por terra, colidindo com os interesses do BDM — e transformando a disputa em uma verdadeira guerra por poder e território.

Sinais suspeitos e economia paralela

Moradores da região relatam o aparecimento constante de pessoas desconhecidas, que se apresentam como empresários ou investidores, mas que despertam desconfiança. Segundo relatos, esses “novos moradores” circulam em carros de luxo — principalmente Corollas, Civics e HB20s — e têm movimentações consideradas atípicas.

Outro ponto que chama atenção é o surgimento de postos de combustíveis em sequência, alguns construídos a poucos metros uns dos outros, inclusive em zonas rurais de baixo movimento. Fontes ligadas à segurança pública afirmam, sob anonimato, que muitos desses empreendimentos podem estar ligados à lavagem de dinheiro do tráfico, embora não haja confirmação oficial.

Falta de fiscalização e avanço das facções

A população denuncia a redução drástica das operações policiais na Estrada do Feijão e no Rio São Francisco. Há quatro anos, a presença da Marinha na fiscalização fluvial era constante; hoje, segundo relatos, é quase inexistente. Com isso, o território se tornou cada vez mais vulnerável à expansão das facções.

Um policial ouvido sob reserva por nossa equipe foi categórico:

“O que está acontecendo em Irecê não é um caso isolado, nem um acerto pontual. É uma guerra territorial. O Estado corre o risco real de perder o controle se não agir de forma imediata e integrada. Se nada mudar, a pergunta deixará de ser ‘quem matou?’ e passará a ser ‘quem manda?’.”

O clima nas cidades é de medo e incerteza. Com o avanço das facções e a ausência de operações regulares, a sensação de insegurança cresce a cada dia, e o Sertão volta a conviver com um cenário de violência que remete aos tempos mais sombrios do interior baiano. fonte: IB