Comentários sobre traficantes viram sentença de morte em Salvador
Anderson e Waldir são vítimas do BDM Crédito: Reprodução
A simples opinião sobre a prisão de criminosos tem custado vidas em Salvador. Na manhã de terça-feira (29), o reciclador Anderson Pereira Conceição, de 46 anos, foi encontrado morto dentro de casa no bairro de São Gonçalo do Retiro, após ter sido brutalmente espancado por traficantes da facção Bonde do Maluco (BDM). Segundo a polícia, ele teria comentado a prisão de uma liderança local do grupo, o que foi interpretado pelos criminosos como uma celebração — uma atitude considerada “imperdoável” pelo tráfico.
“O comentário dele foi no sentido de ‘ainda bem que prenderam’, mas isso chegou aos ouvidos dos bandidos. Para o BDM, esse tipo de fala é visto como traição”, contou um investigador sob anonimato. O espancamento teria ocorrido na noite de segunda-feira (28), como forma de “castigo” e intimidação. Mesmo conseguindo retornar para casa, Anderson não resistiu aos ferimentos, que incluíam graves lesões na cabeça. A Polícia Militar confirmou a morte e a ocorrência foi registrada pela 2ª Delegacia de Homicídios.
Esse não é um caso isolado. Em março deste ano, Waldir Barreto Lopes, de 54 anos, rodoviário e morador da Fazenda Grande do Retiro, foi executado em circunstâncias semelhantes. De acordo com a investigação, Waldir comentou com conhecidos que quatro traficantes do BDM mortos em confronto com a PM seriam “menos quatro” criminosos na comunidade. O comentário lhe custou a vida: a facção invadiu sua casa e o matou com extrema violência.
As duas mortes estão sendo investigadas pela Polícia Civil, mas até o momento não há informações sobre a prisão dos envolvidos. Para especialistas, os casos refletem o avanço do poder paralelo. “Essas facções impõem regras, intimidam e governam as comunidades, muitas vezes mais que o próprio Estado”, afirma o coronel reformado Antônio Jorge Melo.
A realidade exposta pelos assassinatos de Anderson e Waldir deixa claro que, em áreas dominadas por grupos criminosos, até mesmo a liberdade de expressão pode se tornar uma sentença de morte. fonte: Correio 24h